205x291, 1975
CAM, Fundação Calouste Gulbenkian
CAM, Fundação Calouste Gulbenkian
Ao longo da sua carreira recebeu 15 prémios de pintura e menções honrosas em que se destacam:
1972: Prémio Fundação Engenheiro António de Almeida.
1984: I Exposição de Arte Banco do Fomento Nacional
Prémio de Pintura Verbo Postal.
O futuro é já hoje? C.A.M da F. Gulbenkian. Prémio de presença.
1996: Prémio Nacional de Pintura da 2ª Bienal de Artes Plásticas da AIP.
1997: Prémio BMW – Art – Car , Bienal de Cerveira.
2005: Menção Honrosa do Prémio Banif de Pintura.
2006: o Presidente da Republica atribuiu-lhe a condecoração de Grande Oficial da Ordem de Mérito.
Participou em Portugal e no estrangeiro em mais de 300 exposições colectivas: Os Biombos dos Portugueses, em Tóquio, Toronto, Rabat, São Paulo, Buenos Aires, Luanda.
Participou nas Feiras de Arte: Arco – 98, Galeria Fernando Santos e ART/COLOGNE 01 Galeria Sala Maior. Na 6ª e 7ª Mostra Union Fenosa” na Corunha. “Porto 60/70 – Os Artistas e a cidade”, no Museu de Serralves” 2001.
Comissariou várias exposições, entre elas :
“Artistas Russos”, Galeria da Praça Porto, 1990.
Artistas Açoreanos Casa das Artes, Porto, 1990.
ESBAP – FBAUP “215 anos de Belas Artes no Porto” Alfandega do Porto em 1995.
Entre 1991/92 com o apoio da DRAC foi organizada uma exposição itinerante Antológica de 25 anos de Pintura que percorreu Angra do Heroísmo, Ponta Delgada, Horta, Lisboa, Porto, Coimbra, Gondomar, São João da Madeira e Aveiro. Está representado no Museu Carlos Machado, Ponta Delgada. Museu Municipal Amadeo Souza Cardoso, Fundação de Serralves, CAM da F. Gulbenkian, Museu de Södertälfe, Suécia. Inúmeras colecções institucionais ligadas a organismos do Governo Regional dos Açores com destaque para a Assembleia Legislativa Regional. Bancos Millennium BCP, Espírito Santo, BCA, BPI, Banco Fonsecas e Burnay, Hospitais da Horta e Ponta Delgada, EDA e inúmeras colecções particulares.
Editou 9 serigrafias e fez numerosas ilustrações para livros e outras edições com destaque para os encontros ACARTE/88 do CAM da F. Gulbenkian. Em 1989 a capa do disco dos GNR , Valsa dos detectives. Tem participado desde 2005 na “Arte Lisboa” representado pela Galeria Sala Maior.
“O Padre António Vieira nos Açores” Ano Vieirino , Centro Municipal da Cultura da Ponta Delgada e Lisboa e Aveiro.
“Anos 70 / novas fronteiras” junto com o Grupo Puzzle no CAM, fundação Calouste Gulbenkian.
Ao longo da sua carreira teve numerosos textos críticos, alguns como introdução para catálogos de exposições individuais, entre eles: Fernando Pernes, Rocha de Sousa, Egídio Álvaro, Rui Mário Gonçalves, Bernardo Pinto de Almeida, José Augusto França, Eurico Gonçalves, Joaquim Matos Chaves, Arnaldo Saraiva, Eduardo Paz Barroso, Cristina Azevedo Tavares, José Luís Profirio, Rui Reininho e Fátima Sequeira Dias, sendo o ultimo da autoria de Rocha de Sousa para as próximas exposições individuais em 2009/2010 nas galerias São Mamede de Porto e Lisboa que a seguir se reproduz:
Por volta dos anos 60, em pleno Chiado, um dos mais conceituados críticos de arte residente em Lisboa, sustentou comigo, durante várias horas, a tese de que a pintura em si era por natureza abstracta, evolução irreversível já consagrada em livro por Gilo Dorfles. Vivia-se na crista dessa onda que José Augusto-França também cavalgava e o provincianismo português aplaudia, numa insensatez guerreira, contra toda a figuração e os pintores de queda ilustrativa, mesmo que pintassem naturezas mortas tão bem como Braque ou ardis visuais calorosos como Matisse.
Ora nada disto tinha qualquer razão de ser: porque, no domínio das artes em geral, não se pode decretar o fim seja do que for, nem condicionar liberdades ou dogmatizar os caminhos do fazer. Trata-se de um campo cuja identidade passa pelo saber livre, por não se viver o imaginário em termos de ideologia, nem a decisão do discurso submetida a dogmas. A arte pode suscitar vontades expressivas de índice espiritual mas está completamente livre de se realizar (ou nunca) ancorada a uma religião.
O crítico que me acusava de ser pintor ilustrativo, e portanto menor, não terá hoje a veleidade de minimizar as histórias ilustradas, em imagem, que Paula Rego copiosamente produz, ajudada por modelos, fantasiando o fio da sua imaginação nos muitos encontros de família, o avô dizendo sonhos aos netos.
Estou por isso, como sempre estive, aberto ao convívio com as obras de Carlos Carreiro, relevando o seu indiscutível valor, o seu denso sentido de humor, essa orientação que sempre defendeu, entre testemunhos ilustrados
e outras maravilhas da inteligência humana. Tenho boas razões para me sentir eclecticamente lúcido, a arte plural em redor, aberta à superação de todos os dogmas e do seu próprio aprisionamento à moda, aos mimetismos irrisórios no tempo das falsas descobertas. A verdade é que, escrevendo então para a Colóquio, foi ainda numa época de proposições académicas em torno da Escola de Paris que abordei a pintura figurativa, desenhada com grande fausto na ilustração, testemunho e denúncia das vilanias e absurdas em jardins urbanos onde as explorações kitsch abundavam em pleno domínio da crença. Uma das subtilezas de Carlos Carreiro consistia, já por inteiro e nos idos de 78, em recorrer, com o maior dos cinismos, aos códigos de certa figuração académica — e justamente para nos comprometer nessa mesma viagem pela regra no sentido da sua negação. O nosso destino, assim partilhado, empurrava-nos para alguns daqueles reinos da poética aberta à reinvenção, entre perfumes e diferenças sociais aberrantes, floresta de costumes, de contradições floridas, de idas e vindas ao jeito da futilidade. Esta situação aguçava-nos o vasculhar do ver, recriava o enquadramento pontual das percepções, aliás no reforço de dados substanciais indiciados pela didáctica do contraditório e de um mundo iconográfico específico, pontuado por situações onde o particular se elege à condição de metáfora e a caricatura ao risco da denúncia.
Aqui (e agora) Carreiro revê a verdadeira continuidade do seu discurso, mistura personagens dentro de histórias diferentes, narra comportamentos absurdos com um cuidadoso luxo ilustrativo. O prosaico, quotidiano, entre datas, dá-nos conta das mais deliciosas banalidades a par de crises oníricas do ver, mundos perturbadores e risíveis, personagens vestidas a preceito para um passeio pelos jardins, pelas calçadas, quase sempre numa vasta crise de diferenças que o olho junta em plena semelhança, um passo de quem tudo interpela, olhando as coisas com a mão em cutelo contra a testa, a fim de melhor absorver o espectáculo numa assombrosa mistura plástica. Se, em narrativa detalhada e preciosa na escrita, podemos percepcionar, sem margem para dúvidas, uma cadeira e um bolo de anos caindo nos socalcos de certa paisagem do Douro, além de igual desastre de um empregado de restauração a perder-se de facto no abismo, veremos um porco à direita, fazendo curta pausa no almoço para olhar de soslaio as quedas à esquerda, o chão em baixo, nem sequer longe, onde se deve assinalar isso mesmo e a condição sólida, parada, das terras sulcadas por vinhas, talvez ornatos, em pose de sinuosidades pedonais, rodeando uma piscina para a qual salta (e vai mergulhar) certa mulher de súbito solitária, ainda fresca e envergando um vestido vermelho, prático, impróprio para conviver com o cloro. Lá andam, na água transparente, um menino e uma menina, apoiando-se na consistência de ilhas artificiais, talvez ancoradores de plástico hiperrealista, pausas, portos a fingir. Cá fora, no terço inferior da composição, há uma discreta ideia de primeiro plano, fábrica, fabriquetas expelindo fumo, e depois, mais parto de nós, outro senhor em queda, porventura transportador de travessas faustosas ou barcos ainda assim de belo calado.
Trata-se de uma obra, entre muitas outras, semelhantes na diferença, que realinha o espírito ou o estilo de Carlos Carreiro, com maior frescura cromática, clara pulverização cósmica, espaço exercendo o seu efeito de gravidade e de milenares sacudidelas da terra. Tudo, aliás, num sarcástico riso de humor, após o cuidadoso desenho e objectiva aplicação gráfica de uma grande e preciosista definição de inventos absurdos ou mistérios resultantes do talento, apertados na fixação da cenografia geral. De resto, para que tudo isto aconteça, é preciso haver um espírito forte de realização, muitas experiências vividas e consultáveis, dar a ver as coisas com a objectividade desse rigor, convocando o risível e a escondida perturbação das nossas entranhas, como os lamentos da contingência na lama, dos ventos olímpicos, do desenho e do consumo. Mas com um sinal inquietante: o da terminal irrealidade que o pintor, assim, nos dá a ver, transformando a mentira em verdade.
Quando se olham, de passagem, os quadros de Carlos Carreiro, sentimos a pujança festiva da sua aparência. Mas é preciso, para cada um deles, a pausa da observação. Só assim percebemos o que está próximo e o que está longe, uma tridimensionalidade sugerida pela escala das coisas. No entanto, e em breve, personagens e outras figuras se aproximam igualmente dos nossos olhos, afinal na desmontagem da ilusória tridimensão. E assim nos é dado viajar, em plena fascínio, pelo desenho de joalharia, pelo domínio pleno dos contornos e pelo aspecto certeiro de cada limite, cor, tonalidade, a matéria refreada, plana, a fim de conferir todo o espaço à natureza do espectáculo.
O espectador erudito pergunta, indolente, se estas coisas não são mera exploração kitsch — ao que o «candidato» responde, enfático: «é por essas e por outras que eu me candidato a um lugar na Assembleia ou mesmo no Governo. kitsch será, se o quisermos, mas por forma a que contenha o seu retrato e as mil seduções do mundo, parvas, belíssimas, senhoras do consumo e por isso inúteis.»
Alberto Caeiro, guardador de rebanhos, entrou no Martinho das Arcadas, decidido a falar com o seu irmão-pai, sentando-se diante de um poema em que alguém escrevera: sou pintor, desenho o que me vem à cabeça, e não sei nada de economia. Todos os meus quadros pertencem a um rebanho de bichos de encantar, vivem por aqui e por ali, são desenhos coloridos, podem estar de pé ou convocar Deus e os anjos. Mas ninguém lhes responde, é preciso imaginação para falar às plantas e às joaninhas, a Deus também, e porque o céu não existe nascem crianças ao ar livre, como as minhas ovelhas, porque a paisagem é um circo de maravilhas onde as pessoas se divertem e participam nas pinturas em papel de cenário. O trabalho acabou, tudo se fez como jardim de infância, até dos bandidos e dos lobos, além das galinhas e dos bonecos do Disney. Desta cadeira, olhando por cima da mesa, vejo o tinteiro, a caneta e algumas folhas de papel. Puxo a folha de cima e leio o quase nada e quase tudo que os versos dizem:
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz. *
ROCHA DE SOUSA
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